"Os meninos não deixam cortar as unhas dos pés porque acreditam, no íntimo acreditam, que toda a força lhes vem das unhas dos dedos dos pés. Os dedos dos pés dos meninos não são os dedos dos pés dos adultos (portugueses). Se assim fosse teriam um nome próprio, como gardias ou formias, que quisesse dizer unhas, mas dos pés, dos dedos dos pés. Os meninos são fortes e sobem escadas e dão saltos mortais, vão mais depressa do que o som, correm como o cavalo das asas, leves, rápidos, cheios de energia.
Num livro de conselhos aos pais, desses que sai grátis com o sabão da máquina ou com as fraldas, estava escrito, naquela linguagem insuportável do PsicoSá, que as unhas dos pés se cortam a direito, de preferência quando o bebé dorme. Para abreviar era isto que estava escrito. Assim o menino acordou quando a mãe lhe cortava os pés. Isto é os dedos dos pés. As unhas dos dedos dos pés. A direito, enquanto dormia. O menino nunca mais dormiu e a mãe não percebe porquê.
Tive que lhe contar a história de Sansão e Dalila. Sansão era muito forte e tinha uma longa cabeleira como a do pai do menino. Toda a força lhe vinha dos cabelos longos. Dalila dormia com Sansão. Incapaz de vencer Sansão pela força, o Império seduziu Dalila com a promessa de um lugar na próxima longa metragem. E durante a noite Dalila cortou os longos cabelos do amante adormecido, assim lhe tirando a força e a graça.
Acho que percebeu. Ainda não encontrei nenhuma mulher que não percebesse a desgraça de Sansão. Mas continuam a cortar os pés das crianças, rente às unhas, na calada da noite."
In Bebé Filósofo
segunda-feira, 11 de abril de 2011
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